.jpg)
.jpg)
A expressão “birds of a feather flock together” é muito usada em países de língua inglesa e tem sua origem na observação do comportamento de bandos de aves, mas encontra um paralelo claro na organização social humana.
Tanto que existem outras expressões com o mesmo sentido, como “farinha do mesmo saco”, que fala da semelhança entre indivíduos, ou a expressão em latim “Similes cum similibus congregantur” - Semelhante atrai semelhante.
O problema dessas expressões é que elas dão a entender que é preciso que os indivíduos sejam parecidos entre si, quando, na realidade, o fator de união está mais voltado aos problemas em comum.
Por baixo da identidade cultural, dos interesses comuns e das condições socioeconômicas equivalentes, estão os mesmos desafios da vida.
Os semelhantes se agrupam não apenas por afinidade, mas por sobrevivência
Na natureza, bandos mistos de aves, como garças, colhereiros e íbis no Pantanal, se reúnem em dormitórios comuns. A diferença entre eles não impede a colaboração quando há ameaça coletiva.
Esse mesmo princípio se revela nas cidades: bairros inteiros se organizam como "bandos urbanos", compostos por indivíduos que, embora possam divergir em gostos ou etnias, compartilham os mesmos problemas estruturais e objetivos de vida.
É aí que entra a Segmentação Geográfica da Mapfry, um mapa com 421 recortes únicos.
Mais do que geografia, esses dados refletem como o território molda o pensamento, o desejo e a ação de cada grupo social.
A verdadeira coesão nasce de uma matriz profunda: a partilha de obstáculos.
Estudos de comunidades urbanas mostraram que a afinidade não é um estrato social, mas uma forma de resistência.
Um bairro de imigrantes se forma porque suas redes internas tornam a vida dos seus membros mais fácil, menos vulnerável, mais previsível.
Mas nem tudo é sobrevivência, também podendo ser domínio, como em condomínios de luxo, onde a busca por segurança e status gera bolhas de isolamento social, a lógica do "semelhante com semelhante" pode produzir estratificações perversas.
As dores comuns podem ser organizadas em três tipos:
- Estruturais - recursos básicos e essenciais à vida. Como acesso a transporte, segurança, saúde, alimentação.
- Emocionais - necessidades subjetivas, como pertencimento, reconhecimento, autoestima.
- Funcionais - eficiência no cotidiano, condições em que a vida se dá, como tempo perdido no transporte, jornadas duplas, alto custo de alimentação e moradia.
Personas, uma visão atualizada
A ideia de “personas” como arquétipos detalhados, por exemplo, “uma mulher de 35 anos, gerente de RH, mora em Campinas e gosta de séries”, é irrelevante frente ao contexto territorial.
Hoje, o que importa é a realidade que ela compartilha com seus vizinhos, a experiência social replicável.
Quando um recorte detecta que famílias em áreas urbanas de alta densidade e baixa renda têm desafios com a preparação de alimentos, uma marca pode criar produtos com maior durabilidade fora de refrigeração.
Não estamos no jogo de "personas", mas de ecossistemas de dor e comportamento.
O lugar é o destino
Imagine que você está prestes a abrir uma nova unidade de uma franquia de alimentação saudável.
Você olha o mapa e vê duas opções:
- Bairro de elites, com renda per capita alta e pessoas praticando exercícios pela manhã.
- Bairro misto de classe média, com muitos escritórios e academias
A resposta certa não vem do dado bruto, mas do cruzamento entre comportamento, desafios e do contexto.
Com quais dores silenciosas dos territórios acima sua marca mais se conecta?
Ortobom
A franquia de colchões Ortobom está entre as maiores redes do Brasil, porque seu foco não está voltado apenas para a classe social.
Ela mapeia áreas com alta concentração de pessoas acima de 45 anos, onde a incidência de problemas ortopédicos e casos de “dor nas costas” são mais frequentes.
Ou seja, a rede se posiciona onde há necessidade, e trocar o colchão a cada par de anos não é percebido como luxo.
Subway no território do fluxo
Ao analisar dados de origem e destino, a marca identifica locais com alta circulação de pessoas em horários de pico e baixo tempo disponível para almoço.
Ali, um lanche personalizável e rápido é a resposta perfeita a um contexto de pressa e praticidade.
Metodologia
A segmentação da Mapfry nasce do cruzamento de atributos quantitativos, como:
- Renda per capita
- Tipo de moradia
- Densidade demográfica
- Escolaridade
- Composição familiar
- Dados de deslocamento casa-trabalho
Somados a sinais culturais e comportamentais menos evidentes:
- Expressões de distinção social (como posse de bens e nível de instrução)
- Formas de ocupação do espaço urbano (subnormal, condomínio, casa própria)
- Intensidade dos vínculos comunitários (amizade, religião, vizinhança)
- Tipos de uso da internet e do consumo digital
Em vez de apenas quantificar, o modelo da Mapfry se orienta por um conceito central: "dor compartilhada".
O que une os moradores de um território não é apenas o CEP, mas as limitações que enfrentam juntos, e as soluções que constroem apesar delas.
Assim, surgem categorias como:
“Vida difícil”: em domicílios compostos por um adulto com uma ou duas crianças, sem parceiro formal, em regiões de renda baixa e acesso limitado à infraestrutura pública.
“Classe média em ascensão”: composição familiar de dois adultos jovens, sem filhos, morando de aluguel em bairros de alto padrão, com forte desejo aspiracional e investimento em capacitação profissional.
“Elites”: adultos maduros, no auge de sua capacidade produtiva, morando em regiões nobres com posse de imóvel próprio, padrão de consumo elevado e alto grau de distinção simbólica (uso de marcas, viagens, escolas privadas).
Birds of a feather, we should stick together
A canção "Birds of a Feather" utiliza a metáfora de afinidade entre semelhantes para explorar temas de amor, dependência emocional e conexão profunda.
Esses temas ressoam com os princípios da Segmentação da Mapfry, que identifica como indivíduos com experiências e desafios comuns se agrupam em comunidades específicas.
Quando Billie Eilish canta, ela não está apenas falando de amor, ela está invocando uma lógica instintiva de permanência, de proteção mútua diante do imprevisível, assim como fazem as aves na natureza.