Esse é o quarto capítulo da série de conteúdos dedicados ao mapa da cólera, criado pelo Dr. John Snow por ocasião de um surto epidemiológico que levou centenas de pessoas à morte no intervalo de uma semana em 1854 na região do Soho em Londres. O capítulo anterior foi Nem tudo é o que parece.
A região administrativa era compreendida pela Paróquia de St. James e lideranças da comunidade solicitaram providências.
A comissão formada para investigar as ocorrências e propor soluções foi organizada pelo Sr. York, que solicitou ao Dr. John Snow e ao Reverendo Whitehead, que realizassem uma investigação e suas descobertas foram relatadas ao Sr. Marshall, que produziu o documento final, composto por:
- Histórico do surto
- Circunstância associadas ao surto
- Principais hipóteses
- Recomendações às autoridades da paróquia
Análises populacionais davam conta da proporção de mortes por habitantes totais.
A população local compreendia 14 mil pessoas numa área de meia dúzia de quarteirões.
Fica evidente a intensidade das mortes, ao nordeste da Golden Square, na região da Broad Street.
A razão de mortes por 10.000 habitantes estava em 4% (440) em outras áreas da cidade e alcançava 10% (1000) na Broad Street, na medida em que se afastava da Broad St. a proporção de mortes caía de 8 para 5%.
Para se ter idéia do drama, em 21 famílias ocorreu a morte do marido e a esposa, seguida dos filhos.
A densidade populacional era tamanha, que em 4 casas foram contadas 33 mortes, visto que diferentes famílias se apertavam em poucos cômodos.
Essa situação levou a um esvaziamento da região, o que dificultou em muito o trabalho de investigação.
As linhas investigativas avaliavam o percentual de mortes por andar em que a pessoa viva, sua faixa etária, atividade profissional, temperatura e humidade nos dias com mais mortes, sem encontrar correlações.
Isso já apontava alguma desconexão com a tese do miasma, pois a velocidade dos ventos era medida a fim de relacioná-la com um evento de dispersão da doença.
É impressionante notar como a investigação teve que ser metódica a fim de demonstrar e descartar todas as relações de transmissão atribuíveis ao ar.
Dá para notar que eles já sabiam a causa da contaminação e antecipavam a resistência à descoberta.
Entra então uma análise da primitiva rede de abastecimento água e escoamento de esgoto.
A região era abastecida por duas empresas, a Grand Junction e a New River, afastando a tese de que a água já chegava contaminada, dada a super localização das mortes e a ampla área atendida pelas empresas.
Portanto a conclusão apontava para alguma fonte de contaminação local na chamada Área da Cólera.
Terminando com a observação do Dr. Sutherland:
É difícil resistir às evidências estatísticas apresentadas de que as pessoas que mais consumiam aquela água foram as que mais morreram.
O que leva à tese de John Snow, de que a água do poço foi contaminada por alguma fossa usada por pessoas com cólera.
Diante de evidencias irrefutáveis e um mapa, o comitê da paróquia concordou em interditar a bomba da Broad Street.
Isso foi feito com remoção de sua alça, sob fortes protestos dos locais que se ressentiam de perder acesso à agua que tanto apreciavam.
Por mais que a interdição possa ser considerada uma vitória do método científico aplicado por Dr. Snow e pelo Reverendo Whitehead, seu estudo foi amplamente desacreditado pela comunidade médica.
Sendo reabilitado anos depois em outro surto, ocasião em que John Snow já havia falecido.
Finalizamos a série no próximo artigo, O despertar da vida nas cidades.
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O documento completo pode ser encontrado neste link.